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Revolta da Salada: O Despertar do Gigante



Um aumento no preço da passagem de ônibus em São Paulo cria revolta e indignação na população que por sua vez resolve tomar as ruas em protesto. Aí você pergunta: "Oras, tudo isso por causa de 20 centavos?" Não, não é tudo por causa dos 20 centavos, devo informar-lhe. O Brasil é um país com um elevado índice de corrupção, é uma pátria doente e muitas são suas moléstias. Um país com desigualdades, com descaso para com o cidadão, um país em que as diferenças sociais gritam. A população cansou da inércia, cansou de ser tratada a pão e circo e se uniu em uma luta que é de todos. Os políticos não entendem, os grandes empresários também não, até alguns "jornalistas"  que deveriam defender o direito à liberdade de expressão e à luta social brasileira acabaram ali perdidos, sem entenderem o porquê, pobre Arnaldo Jabor. 
Nos jornais as manchetes falavam de vândalos e de revolta sem causa. Opa, revolta sem causa? Com todos os problemas que existem nesse país acho eu que o que mais temos é causa para nos revoltarmos. Quanto a vandalismo, sim houveram pessoas apelando para o quebra quebra, mas foi uma minoria repudiada até pelos próprios manifestantes. Jabor foi um que ironizou a manifestação, mas não foi o único. Vários veículos de mídia alegavam que a revolta estava sendo feita por jovens de classe média e alta que não tinham o porquê de brigarem por 20 centavos... Mas como disse, não são apenas os 20 centavos. Alguns "jornalistas" diziam que o pobre trabalhador que deveria se rebelar não estava ali nas ruas e que isso seria a prova de que a manifestação não era legítima. Pergunto a vocês: Querem mesmo saber onde estão os pobres trabalhadores? Estão ali suando a  camisa para conseguirem sobreviver com alguma dignidade com esses salários vergonhosos, estão ali lutando para pagarem suas contas e os altos impostos que o governo brasileiro impõe. Eles não estão nas ruas pois estão lutando para comprarem o pão de cada dia. Pobre Jabor, tão ingênuo que chega a crer que a manifestação é uma festa, não Jabor, não é... O Carnaval acabou. 
Aos poucos a população despertou, o gigante acordou e está ali pronto para mudar o país, ou ao menos tentar mudar. Os brasileiros estavam enferrujados de tanto ficarem sentados em seus sofás reclamando da vida, mas algo aconteceu, a rua é nossa.
Uma manifestação pacífica e até mesmo despretensiosa, chego a  afirmar, e que acabou crescendo. Se antes o povo queria respeito, agora quer respeito e liberdade. A manifestação que se auto dominou de Revolta da Salada após a prisão de vários manifestantes por estarem portanto vinagre, desde quando uma substância ilícita? E a forma truculenta com a qual a polícia agiu, o notável despreparo e abuso de autoridade da tropa de choque foi ganhando as redes sociais e o absurdo rendeu novas manifestações em várias outras cidades do Brasil e até mesmo no exterior. O mundo viu como o Brasil trata seu povo, e em solidariedade muitos cidadãos de fora  do país entraram na luta. 
Policiais agredindo covardemente manifestantes com bombas de gás, sprays de pimenta, cassetetes e balas 
de borracha como se enfrentassem marginais. Uma população munida de gritos exaltando a não violência, um povo que insatisfeito foi as ruas reclamar, uma nação que só exigia um pouco de respeito e foi recebida com agressões. O choque tomou conta de todos, oras, achávamos que a ditadura já havia passado. Fomos ingênuos, acreditávamos que vivíamos em um país livre em que poderíamos nos manifestas, mas não. Vivemos no mesmo Brasil que tantos anos atrás calava e torturava seu povo. A ironia nisso tudo é que um país onde seus governantes lutaram no passado contra a repressão agora está aí, reprimindo mais uma vez sua população. Se esqueceu de suas lutas senhora Dilma Rousseff? Um dia a senhora esteve ao lado do povo, o que houve depois que assumiu o poder? A presidência lhe tirou o espírito de justiça?
Os poucos e verdadeiros jornalistas, digo verdadeiros por possuírem ainda em seus corações a essência da luta pela verdade e por terem em suas veias o sangue daqueles que lutam contra as repressões sofridas, esses estavam ali tentando trabalhar, tentando apenas cumprir seu papel e relatar a manifestação, porém serviram também de alvo dos ataques da polícia. Profissionais que estavam exercendo sua função e foram atacados por aqueles que deveriam proteger a sociedade. 
Após os jornalistas se tornarem inimigos da força policial, a mídia, ou ao menos parte dela, abriu os olhos e reclamou: "Como assim? Meus funcionários sendo atacados? Oras, que ataquem os vândalos vagabundos e não trabalhadores!"
O picadeiro estava pronto, o circo está armado, mas dessa vez o povo não servirá de palhaço. Pela primeira vez em tantos anos vejo um orgulho patriota brotar no peito dos brasileiros. O Brasil resolveu sair da inércia e pulou a parte do hino que diz: "Deitado eternamente em berço esplêndido" direto para a parte que exalta: "Verás que um filho teu não foge à luta". Pode não haver nenhuma mudança de preço na passagem, mas o povo descobriu seu poder, o povo agora sabe que possui voz e que ao gritar em uma só voz o mundo inteiro sacode.
Os políticos atordoados com tamanha manifestação surgem na televisão pedindo calma, dizendo que não há repressão, que tudo foi um incidente, oras quem diria, a polícia não estava preparada. Ops, como assim a polícia não estava preparada? Um país que está prestes a sediar a Copa do Mundo de futebol, um país que daqui a alguns anos vai ser sede das Olimpíadas, e a polícia está despreparada? Se os policiais não conseguem manter a calma e o controle em uma manifestação pacífica, como esperam agir em meio ao tumulto comum em grandes eventos? Os estádios estão preparados, a polícia não.
O leão aprendeu a rugir e a passos curtos tal qual de uma criança aprendendo a andar o povo vai conquistando o seu espaço. Não queremos nada de  impossível, apenas nossos direitos, tais como dignidade, justiça, respeito, liberdade e alguma qualidade de vida, pois atualmente vivemos num país que mal nos garante uma vida que dirá alguma qualidade. Enquanto nossa nação cresce com síndrome de inferioridade acreditando que na Turquia há manifestantes e aqui há vândalos, como nossos grandes jornais pregam, o governo ri na nossa cara desacreditando que nos ergueremos. Demos o primeiro passo em direção a mudança, estamos preparados para lutar pelos nossos direitos. Unidos podemos reconstruir um novo país.



(Luíza Gallagher)

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