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Silencioso Desespero



Ar quente e escaço entra por suas narinas. Sua respiração fica cada vez mais espaçada. Dos olhos uma lágrima escorre, mas ninguém vê. Suas mãos estão presas, não há meio de calar o pranto que lhe aflige. Sua boca não emite sons. Algo o cala? Seriam feridas expostas de uma alma condenada? Ou será apenas o medo que o silencia?
Numa fração de segundos nossos olhos se cruzam através das lentes negras postas em ti. Meu sangue gelou. Senti seu medo. Uma súplica silenciosa me lançou em um relance. Seu silêncio foi como um grito abafado num fim de tarde de verão. 
Ali está você entre eles, grandes carrancas ameaçadoras no carro negro. E você, como um frágil pedaço de plástico suplicante. Uma sacola ao vento durante um tornado.
Um rápido vislumbre e o assombro. Pobre sacola solitária a me encarar. 
O carro preto desaparece ao virar uma esquina e apenas o seu grito silencioso por ajuda fica para trás.  

(Luíza Gallagher)

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