Estava eu sozinha em casa assistindo ao meu programa
favorito de TV, quando de repente toca a campainha. Levanto do sofá resmungando
e sou obrigada a abrir a porta, pois não tenho olho mágico e mesmo que tivesse
acho que não adiantaria em nada. Olho mágico de verdade seria aquele que
conseguisse dar sumiço nas visitas indesejadas, e não apenas um buraquinho que
nos deixa ver o chato que está na porta.
O pior é que a campainha sempre toca quando não queremos
atender e geralmente são pessoas que realmente não queremos ver, como por
exemplo, aqueles vendedores insistentes que nunca se contentam com um não. Abri
a porta e lá veio um deles invadindo minha sala, me empurrando milhares de mostruários.
O pior são os sorrisos e o tom feliz que eles usam, como se
eles estivessem ali para salvar a sua vida. Tentei argumentar com o homem,
dizer que não precisava de nada, mas ele insistia, disse que se eu olhasse os
catálogos eu iria acabar encontrando algo de que precisava. Eu falei que não
queria ver nada, ele respondeu que valeria a pena, sem compromisso. Mas eu não
queria ter nem o compromisso de ver, porém ele me empurrava os papéis dizendo
que não custava nada, olhar é de graça.
Mas afinal, de graça não era, pois eu estaria perdendo meu tempo, e como
dizem: tempo é dinheiro.
Foi então que ele começou a tentar me atrair por promoções,
descontos e sorteios, olha só, eu poderia concorrer a vários prêmios, de carros
e casas até adesivos e imãs de geladeira, imperdível! Eu disse-lhe que quanto
mais ele insistisse mais eu iria desistir, porém algo nele me levou a crer que
quanto mais eu desistisse mais ele insistiria. Tem certas pessoas que não
possuem limites, não sei como conseguem certos empregos, ou será que conseguem
certos empregos exatamente por não terem limites?
A minha vontade era de dar com a porta na cara dele, mas
apesar de tudo, a minha gentileza não deixava. O sujeito me fez olhar mais de
quinhentos catálogos e resolveu ligar uma enceradeira elétrica “último modelo”
na tomada. Foi então que me aproveitei da oportunidade, mostrando que meu piso
era revestido por carpetes. Achei que finalmente tinha me livrado dele, afinal,
era uma boa desculpa. Mas eis que ele tinha uma carta na manga, me mostrou um
aspirador de pó “de alta tecnologia”, um daqueles que eu “não poderia viver sem”
e com um desconto de 50%. Eu enfim fui vencida, não havia mais armas para o
combate, ele havia vencido. O olhei com a tristeza dos derrotados e ele abriu
ainda mais o sorriso vendo que havia enfim quebrado minha resistência. Ao fechar a porta corri para frente da TV,
mas o programa já havia terminado... E
agora, o que eu faço com dois aspiradores em casa?
(Luíza Gallagher)
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