E se eu disser que o que doeu não foram seu atos ou suas palavras? E se eu disser que você não precisa vir se desculpar ou se explicar? E se eu disser que o que doeu, e ainda dói, é apenas a mesma coisa de sempre? Apenas a bobagem da ausência que arde em mim, a teimosia do querer o que não se tem, a ambição de desejar o inatingível? E se eu sorrir e falar que gosto desse masoquismo sentimental? E se eu disser que esperava mais quando no fundo não esperava nada? E se eu disser que ainda sinto o que prometi esquecer e já esqueci o que jurei nunca esquecer? E se eu disser que faço preces a noite para que alguns dos meus sonhos nunca se realizem? E se eu tentasse explicar que a dor e a expectativa me motivam? E se eu confessasse que a muito já desisti e que a teimosia é um modo de tentar reabrir uma ferida só pra vê-la cicatrizar de novo? E se eu negar que seja amor? E se eu afirmar que é apenas um desejo egoísta e cruel por sofrer? E esses são os motivos para que eu nunca lhe diga nada, se eu disser-lhe, você de certo me acusará de ser uma louca desvairada que tem um apego no sofrer, e me amarrará em uma camisa de forças para da minha loucura padecer.
(Luíza Gallagher)
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